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Consciência negra: apenas 16% dos professores são negros

Michelly Carvalho acredita que percentual pode mudar nos próximos anos - Foto: Arquivo Pessoal

 Michelly Carvalho acredita que percentual pode mudar nos próximos anos - Foto: Arquivo Pessoal

Um levantamento feito a partir de dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostra que dos 400 mil professores das universidades públicas e particulares do Brasil, apenas 16% são negros, ou seja, cerca de 62.239 profissionais. Mas esta realidade pode mudar nos próximos anos. É o que acredita Michelly Carvalho, doutora em Sociologia da Comunicação, docente e jornalista.

Leia também: Consciência negra: onde estão as jornalistas negras 

Ela faz essa projeção baseada em uma pesquisa organizada pelo IBGE, que revela que o número de jovens pretos ou pardos, de 18 a 24 anos, que estavam cursando ensino superior aumentou de 50,5% em 2016 para 55,6% em 2018.

“No meu entendimento, existe menos professores negros porque se formos pensar na história da ocupação do povo negro na universidade, é algo recente. Então, essas pessoas ainda estão no processo de mestrado e doutorado, tentando adentrar no universo da docência. Por isso, não conseguimos visualizar mais pessoas negras. Na minha época de universidade, eu não me recordo de nenhum professor negro. Por isso, a gente precisa lutar para que esses lugares sejam mais ocupados”, afirma Michelly Carvalho.

De acordo com a docente, ela teve uma formação atípica para uma mulher negra de baixa renda. Escolheu o jornalismo por influência de uma professora do Ensino Fundamental. Então, decidiu que iria estudar muito para ingressar em uma universidade pública. A mãe fez um sacrifício e conseguiu pagar os estudos em uma escola particular, nos dois últimos anos do Ensino Médio.

Para fazer o dinheiro da mãe valer a pena, ela se isolava dos colegas de classe. Ao adentrar na Universidade, a desigualdade social foi seu principal obstáculo. Mas o mestrado e o doutorado eram os seus objetivos. E mais uma vez, ela se debruçou em pesquisas para conquistar o tão sonhado intercâmbio.

“Participei de uma seleção de intercâmbio em Portugal, fiz parte dos 10 primeiros que fizeram intercâmbios na Ufpi. Vi a possibilidade de concluir a graduação, fiz o mestrado e doutorado vislumbrando a questão de ser professora. Em Portugal, o preconceito que sofri por algumas pessoas foi mais pelo fato de ser brasileira, pois era muito vista como prostituta e brasileiro como malandro. Eles diziam ‘você é bronzeada por natureza’, porque minha pele não é tão escura, mas me reconheço como negra, não me sentia ofendida, mas sabia eu tinha preconceito”, lembra.

Em sala de aula, Michelly sempre procura incentivar os seus alunos, mostrando que não é impossível alcançar os seus objetivos. Mas que as mulheres negras, em especial, têm que reconhecer as opressões, no sentido de ser silenciada e ocupar espaços, ultrapassando as barreiras das cotas.

“Eu reconheço que quanto mais a gente sobe na escala de poder, menos vemos pessoas negras e sempre procuro debater que precisamos ir para esses lugares, que o racismo é estrutural, mas a gente tem que combater, pois a mulher negra sempre foi colocada como uma subalterna, algo de posse. Então, precisamos reafirmar a nossa capacidade”, conclui Michelly Carvalho.

 

Estudante comemora maioria negra nas universidades, mas faz reflexão

Elane Araújo tem 23 anos e também comemorou o resultado da pesquisa do IBGE, que destacou que, em 2018, os estudantes pretos ou pardos passaram a ser maioria nas instituições de ensino superior da rede pública (55,6%). Ela está concluindo o curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e Relações Públicas, da Universidade Estadual do Piauí (Uespi).

“Esse é um dado que me deixa muito feliz, mas é passível de debate. Isto porque a população negra é composta por pessoas que se autodeclaram pretas e pardas e a autodeclaração é a forma como se faz a classificação racial pelo IBGE; então, temos hoje, pela primeira vez, pessoas pretas em maioria na universidade. Mas é importante questionar em que condições essas pessoas estão. Elas são maioria nas turmas formandas? São maioria em alunos ativos cursando? Elas têm condição de se manter no ensino superior? Todas essas questões precisam ser debatidas em políticas públicas que nos atendam. Estamos na universidade, mas queremos sair dela, queremos espaço no mercado de trabalho nas mesmas condições salariais e de trabalho que as demais”, argumenta a estudante.

Desde pequena, Elane quis ser jornalista. Após ingressar no curso, começou a procurar estágio, porque precisava se sustentar para permanecer na universidade, pois mesmo estudando em um órgão público, o aluno tem outros gastos. Suas experiências foram desde assessoria de comunicação, jornal impresso, radiojornalismo, webjornalismo e atualmente trabalha com redes sociais.

“Hoje sou funcionária de uma empresa privada, com carteira assinada, mas isso não quer dizer muita coisa quanto à minha permanência no mercado de trabalho, pois os direitos estão sendo usurpados pelo desgoverno federal. Como eu sou uma pessoa negra de pele clara, posso dizer que o racismo chega de forma branda em mim se comparado a pessoas negras de pele retinta. Mas como ele (racismo) é implacável, já sofri sim episódios de racismo, desde ser chamada de macaca ‘na brincadeira’, até ser seguida em algumas lojas que frequentei por acharem que eu iria roubar. Como eu disse, essas são formas ‘brandas’ do racismo se manifestar, mas ainda assim, doeu e ainda dói”, lamenta Elane Araújo

 

Por: Sandy Swamy, do Jornal O Dia

 

Emanuel Vital

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