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Deus, ainda é Pai, nesta Pátria de abandonados!

 

“Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são”, gritava o Macunaíma de Mário de Andrade, num desabafo de milhões de brasileiros inconformados, tristes e desesperados. O tempo passou, mas, o grito-macunaíma ainda ecoa num Brasil modernamente desigual e corruptamente imoral.

 

Nós, os brasileiros, estamos completamente abandonados e órfãos numa pátria, ironicamente, educadora. Padecemos do mal da ausência e do desamparo.

 

A quem recorrer neste Brasil de desalmados políticos, de gananciosos capitalistas, de famigerados banqueiros, de violentos latifundiários, de dissimulados juristas, de incompetentes administradores, de réus confessos e impunes, de justiceiros da maioridade penal, de intocáveis foras da lei…?

 

O que fazer diante de tanta desmobilização, burocracia, injustiça, inércia, faz-de-conta e impedimentos? Não temos mais saída? Estamos de mãos atadas?

 

Não! Definitivamente, não! Em todos os cantos do Brasil estão se multiplicando reações das mais diversas ordens. As pessoas não aguentam mais! O povo está inconformado. É positivo que haja reações, mas, são insuficientes. O problema das reações é o imediatismo e a descontinuidade. Estamos falando do famoso “fogo de palha”. Tudo é esquecido no dia após à reação.

 

Eu não sou pessimista. Pelo contrário, acredito e amo o Brasil e os brasileiros que somos nós. Mas, vivemos repetindo um refrão de frase feita de que “é a crise” e, tudo fica por isso mesmo. Que crise é esta? Onde ela está? De onde ela vem?

 

Na verdade, o Brasil e o mundo está sendo tragado pela convulsão social, política e econômica, resultado-consequência da insaciável e canibal sede de poder, de ter, de status e de prazer de uma casta dominante, intocável e impermeável. No caso do Brasil falamos em uma horda de não brasileiros que está afundando o nosso país.

 

O trabalhador da roça, o pobre, o sem voz, o sem vez, o lascado… não criaram este abismo de morte, mas, padece nele com toda devassidão de consequências.

 

Pelo censo do IBGE, o Brasil é o país da fé. E dai? De que maneira isso redunda em mais justiça, amor e verdade?

 

Eu penso que, se não refizermos o caminho de volta ao sentido de pertença e responsabilidade, de fé, por aquilo que somos e fazemos, nada adiantará; não haverá caminho. A fé deve ser um imperativo da responsabilidade humana pelo bem comum e pela fraternidade. Como diz São Paulo: “Não se amoldem às estruturas deste mundo, mas transformem-se pela renovação da mente, a fim de distinguir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que é agradável a ele, o que é perfeito. Que o amor de vocês seja sem hipocrisia: detestem o mal e apeguem-se ao bem” (Rm 12,2.9).

 

A fé não pode endossar o mal e a maldade por omissão, sob o pretexto de os cristãos estarem ocupados com o culto e o louvor a Deus ou por terem se distraído em busca da prosperidade. Nada justifica cruzar os braços ou usar “panos quentes”. Se não for por fé, devemos agir, ao menos, por humanidade.

 

Deus é UNO e TRINO. Esta não é, somente, uma verdade teológica que alimenta abstrações e devaneios. Em absoluto! Esta verdade sobre Deus nos permite viver sob a nova esperança de um Deus trinitariamente presente e misericordioso que, está no meio de nós, nos socorre e nos ampara. Isso é um conforto, mas, ao mesmo tempo, extremamente comprometedor. É o profeta Malaquias quem faz o seguinte alerta: “Por acaso, não temos todos nós um único pai? Por acaso, não foi um só o Deus que nos criou? Então, por que enganamos uns aos outros, profanando assim a aliança de nossos pais?” (Ml 2,10).

 

Não estamos órfãos neste mundo e, nem tão pouco, desamparados. Deus não está ausente ou longe. Deus, ainda, é Pai nesta pátria de abandonados. Na verdade, somos morada de Deus Pai, em Cristo e no Espírito Santo, conforme a Sagrada Palavra: “Se alguém me ama, guarda a minha palavra, e meu Pai o amará. Eu e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23) e, ainda, “Em Cristo, vocês também são integrados nessa construção, para se tornarem morada de Deus, por meio do Espírito” (Ef 2,22).

 

O bem não é uma ideologia ou uma moda passageira; é uma atitude filial de fé.

 

Por: Pe. Edivaldo Pereira dos Santos

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