Não resisti em publicar essa foto que tirei, há não muitos anos, no Rosário, em Oeiras. Pra quem não sabe, Rosário é o bairro negro mais antigo do Piauí. Ainda hoje é negro. Já foi mais. Mas ainda é negro. Minhas mais antigas lembranças datam do tempo de criança: era um bairro de casas pequenas, sem calçamento, sem água encanada... Mas já possuía seus símbolos, sua identidade: o bloco de carnaval Foliões do Samba, a Casa da Pólvora, a igreja jesuítica, os Congos, o Pé de Deus e o Pé do Diabo, o Lajedo do Samba, o Riacho dos Negros, afluente do Mocha... Havia principalmente sua gente e a expressão “Negros do Rosário”, como Dona Balbina, matriarca, líder natural inconteste, e Seu Zequinha, elegante, sabia das coisas: saiu do Exército ao perceber que ali não teria futuro, por causa da cor da pele.

Perto da Rua 13 de Maio, há a Praça da Abolição. Os negros esclarecidos não gostam dessas referências. Com razão. Anatália Nascimento, Presidente do Grupo de Consciência Negra Quilombo do Rosário, gostaria de mudar o nome para Praça Zumbi e nela erguer estátua. Acho que a pessoa perfeita para fazê-la chama-se Braga Tepi, que nem sabia disso, mas agora sabe. Por enquanto, isso está no plano das ideias, mas vai virar coisa concreta.

Na noite de ontem, houve o lançamento do livro Menino do Congo, de Marcia Evelin, no largo da Igreja do Rosário. Hoje, haverá audiência pública e “formalização da entrega do Currículo da Educação Infantil”, no Cine Teatro Oeiras, território branco de origem, eis que a cidade ainda possui divisões.

Um negro que não esqueço é Zé Pangula. Só depois soube que o apelido deriva de Maria Pangula, nascida no Cassange, de quem era filho. Mas foi criado mesmo por Preta Bedego, irmã da violeira e mãe de Anatália e Afonso Casca Preta. Zé Pangula era altivo e tinha extraordinária verve humorística. Para mim, é outro símbolo importante do Rosário.

*Rogério Newton é Defensor Público aposentado, escritor, poeta e ambientalista