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Crônica: "Ritinha, eu te amo!". Por; Gutemberg Rocha

 

Ritinha, eu te amo!

 

*Por; Gutemberg Rocha

 

Pouco mais de um mês antes do falecimento da professora Rita Campos, nossa querida amiga Ritinha, eu e minha esposa a visitamos na residência do seu irmão Joel, em Teresina. Ela se recuperava de cirurgia à qual se submetera havia poucos dias e que, no final das contas, em virtude de complicações, terminou por abreviar-lhe a estadia neste mundo.  Conversamos longamente, sem imaginar quão próxima estava a sua partida. Sabíamos todos que os seus problemas de saúde eram graves, porém acreditávamos que teríamos ainda um bom tempo de convívio pela frente. De repente, gratuitamente, Ritinha virou-se para mim e, alto e bom som, declarou: “Guga, eu te amo!” 

A declaração me surpreendeu, não pelo sentimento revelado, mas por ter chegado assim tão inesperadamente. Na verdade, eu já sabia! Ao longo do tempo, ela me deu muitas demonstrações de amor, desse amor profundo e fraterno também conhecido como “amizade”. Rita de Cássia Campos foi, para mim, uma irmã, uma conselheira, confidente, professora das coisas da vida; uma luz que eu seguia com admiração e respeito, e que me dedicava carinho, afeto e consideração. Ela me amava, sim, eu já o sabia! Amava-nos a mim e a Gardênia, incondicionalmente, e a recíproca era verdadeira.

Não sei dizer o que senti naquele momento. A emoção me envolveu e acho que meus olhos marejaram. Quis dizer “Também te amo!”, mas pareceu-me que poderia soar como retribuição de gentileza, mero gesto de educação. Calei-me! Um filme passou em minha mente. Lembrei-me que estivemos juntos na docência da Escola Normal, nas minhas experiências teatrais, na Seresta ao Bom Jesus, no lançamento de Sonetos & Retalhos, livro póstumo de seu irmão Gerson Campos... Lembrei-me das festas, das serenatas, das sessões solenes, das refeições em sua casa, da sua presença em minha vida, das suas andanças pelo mundo... Vi Ritinha amiga dos sacerdotes, devota de Maria, ministra da Eucaristia... Vi Ritinha diretora de Escola, coordenadora de Educação, secretária de Cultura... Vi Ritinha envolvida com o Instituto Histórico de Oeiras, com o Rotary Club, com a Confraria Eça-Dagobertiana... Vi Ritinha à frente do CLAM (Clube Adolescentes em Marcha) e por trás do balcão da Miscelânea (sua lojinha de bijouterias)... Vi Ritinha no Natal, no São João, no Carvaval, nos festejos da Igreja e fazendo a crônica social da cidade, na Rádio Primeira Capital... Em poucos segundos, mil imagens me vieram à cabeça, como um redemoinho.

Calei-me! Mas ela me conhecia bem, me compreendia e sabia dos meus sentimentos. Naquele momento, deve ter percebido a intensidade da minha emoção, e continuou a conversa naturalmente, como quem diz: “Não é preciso dizer nada, meu amigo. Os seus olhos já dizem tudo!” Mesmo assim, não pude me furtar de dizer-lhe, ao despedir-me, com toda a sinceridade do meu coração: “Ritinha, eu te amo!”

Decorridos alguns dias, mais precisamente em 4 de outubro de 2015, um domingo inesquecível, estivemos visitando-a novamente, desta feita no hospital, e desfrutamos pela última vez da sua companhia.  Gardênia passara o sábado com ela e contou-me do seu sofrimento. Ao vê-la, porém, pareceu-me ver alguns sinais de melhora. Entreguei-lhe um exemplar da Revista nº 19 do Instituto Histórico de Oeiras, lançada na véspera, no Cine Teatro Oeiras. Era oferta de sua irmã Amália, com dedicatória da presidente do Instituto, professora Rita de Cássia Neiva. Juntamente com a revista, Dona Amália enviara uma carinhosa carta de solidariedade, a qual Ritinha fez questão de ler em voz alta. Depois, rezamos juntos, cantamos para São Francisco (o santo do dia), recordamos momentos felizes e nos despedimos com um “até logo”, na certeza de que em breve estaríamos juntos novamente. Ledo engano! Quatro dias depois ela partiu sem dizer adeus!  Hoje, um ano depois, sua voz ainda ressoa nos meus ouvidos, dizendo: “Guga, eu te amo!”, a frase que talvez contivesse o prenúncio de uma despedida definitiva. Provisoriamente definitiva, já que, pela misericórdia de Deus, espero que nos reencontremos um dia, na vida eterna. Amém!

 

* Gutemberg Rocha é membro de Instituto Histórico de Oeiras

 

 

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