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A efervescência vivida naquela rua do Rosário. Por; Emanuel Vital

No entanto, eram os moradores eliseuenses que transmitiam aura inquietante ao lugar.

Rusa Eliseu Barroso no bairro Rosário em Oeiras. Foto: Googlemaps

 Rusa Eliseu Barroso no bairro Rosário em Oeiras. Foto: Googlemaps

Rua, normalmente é entendida como um espaço público no qual o direito de ir e vir é plenamente realizado. É o conjunto desses caminhos que formam aglomerados maiores, os bairros, e que, por conseguinte, estabelecem as cidades.

Geralmente, estes locais recebem nomes de pessoas falecidas e que tiveram alguma importância histórica ou atuação destacada na comunidade, em uma espécie de homenagem póstuma.

Entre tantas, todas com sua relevância, a central desse redigido é a Eliseu Barroso, localizada no coração da ‘Cidade alta de Oeiras’, o bairro Rosário. A razão é simples e nostálgica, uma vivência de quase três décadas em vibrante pedaço de chão.

Outorga nome à rua de aproximadamente 900m de extensão, Eliseu Barroso de Carvalho. O reportado, era fazendeiro e comerciante nascido na Fazenda Bocaina, hoje cidade de Bocaina do Piauí. O ilustre também foi um dos fundadores da cidade de Várzea Grande do Piauí. Todavia, durante muitos anos viveu e exerceu atividade comercial em Oeiras, cidade na qual faleceu, aos 87 anos.

Quem vivenciou neste logradouro nas décadas de 80 e 90 do século XX, faz memória à sua efervescência.  Talvez a geografia deste tenha contribuído para tanto. Iniciando na asfaltada Brigadeiro Manuel Clementino, em seu eixo central, a Eliseu Barroso é cortada pela sinuosa colina da Rua João Paulo II. Em sua fronte, conecta-se com o Largo do Rosário e a cativante Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Em sentido oposto, é separada pela Leocádio Amâncio. Paralelizando-se à direta/esquerda com as históricas: 7 de setembro e 13 de maio, respectivamente.

Essa confluência de vias proporcionou ao local em mencionado tempo pretérito, dinâmica citadina frenética, fazendo-o parecer vivo a cada instante. No entanto, eram os moradores eliseuenses que transmitiam aura inquietante ao lugar.

A meninada tinha como principal atividade, brincar, não importava onde e como. Para tanto, os menores sempre se arranjavam. Destes, ficaram: puxar o carrinho de brinquedo pelo cordão, correr atrás da bola sonhando ser atleta do futebol. Tinha até dinheiro feito de carteiras de cigarro, cada marca com o valor financeiro que convinha. Talos de carnaúba davam vida a belos cavalos encabrestados. Rodar pião, fincar ferrinho no chão molhado, atirar de baladeira e soltar surú, vida boa! E os ecléticos; esconde-esconde, cola e trisca? As meninas moças, muitas verdadeiras dançarinas, não se aquietavam ao primeiro toque musical. Brincadeiras de roda, as mais diversas. Cinco pedras, macacão, pulo no elástico, cemitério. Um olhar ou outro mais atrevido não deixava de acontecer, a essa altura, claro, coisas da mocidade.

Dos adultos, que se conheciam e se davam muito bem, cabe lembrar: A conversa da vizinhança de porta em porta. A lida diária do alimentar as vacas no curral de seu Eliseu Amâncio. Um sábado de assar bolos no fogão embutido com fogo à lenha na casa de Dona Balbina Apolinário, a ‘Baronesa do Rosário’. O ir à Igreja do Rosário participar da reunião do grupo de jovens e a missa do domingo, ás 17h. E o pé de umbu de 'Dona preta' de tantas histórias e aventuras? E o jogar damas no tabuleiro de Zé de Vitória que atraia jogadores até de bairros distantes? 

A cultura sempre esteve arraigada no dia a dia dos residentes da Eliseu Barroso, estes contribuíram sobremaneira com esse viés que é peculiar no bairro Rosário. Um grupo de ritmista e passistas dos blocos carnavalesco "Foliões no Samba" e "Unidos do Rosário", componetes da 'quadrilha junina 'os caipiras', dancarinas do épico grupo de dança 'free-dance', as religiosas 'Senhoras Legionárias', integrantes do grupo folclórico Congos de Oeiras também havia por lá. Na verdade, por este caminho, era perceptível um pouco de tudo.

Um marco, a ida dos alunos ao colégio Nogueira Tapety. Lá se vinham os do bairro canela também, a rua vestia uma cor só, azul e branco. A descida dos foliões no samba no domingo e na terça-feira de carnaval da tradicional fantasia. Na sexta-feira de passos, a multidão de romeiros sob olhar fixo e acolhedor dos habitantes. Sem esquecer o cruzar dos moradores do povoado rural butiri do rei - aquela época ainda montados em animais. E as lavadeiras do mocha com suas trouxas gigantescas?

Toda essa dinâmica, posta simultaneamente, embutia a aludida via, aura própria. Ademais, o tempo passou, hoje vive-se outra realidade com a evolução de tudo e, a rua no quadro mencionado não é mais a mesma. Muitos domiciliados foram-se embora literalmente, outros já são falecidos. Os atuais não mais se cortejam como antes. Assim, evoca-se espaço geográfico oeirense que sem dúvida por décadas marcou a efervescência de uma época, possivelmente, a mais bela da urbe. Valeu portanto rememorar.

 

*Emanuel Vital é professor de geografia em Oeiras

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