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Aluno de Villa-Lobos

Maestro Emmanuel Coelho Maciel

 Maestro Emmanuel Coelho Maciel

Pegou-me de surpresa a morte do maestro Emmanuel Coelho Maciel, no último dia 29, em Teresina, aos 79 anos de idade. Era uma grande pessoa humana. Um homem que vibrava pela vida, pela música, pela amizade, pelo trabalho. E tantas contribuições deixou entre nós, por seu talento, jovialidade e espírito realizador.

 

 

 Lembro muito bem quando o convidei para ir a Oeiras com o grupo Ars Tupiniquim, em 1988, para a segunda versão do concerto A Dança dos Espíritos. Ele aceitou o convite com muito entusiasmo. E mais ainda ao conhecer as peças musicais de Possidônio Queiroz, cuja obra resgatou do esquecimento. Uma das minhas maiores alegrias foi ter contribuído indiretamente para o encontro entre aqueles dois gigantes da música e para a amizade que se formou entre ambos, marcada por mútua e profunda admiração.

 

 

Há cerca de dois anos a Câmara de Vereadores de Oeiras concedeu o título de cidadania ao maestro, por causa do resgate da obra de Possidônio Queiroz. Infelizmente, aquela Casa nunca marcou a sessão para entrega da homenagem. Não se dignou sequer em comunicar-lhe oficialmente a concessão do título. Ele só soube porque telefonei dando a notícia, que lhe trouxe muita alegria.

 

Emmanuel Coelho Maciel desejava muito ter vindo a Oeiras, cidade que ele admirava, não só para receber e agradecer a honraria, mas também para prestar sua gratidão a Possidônio Queiroz. Era sua vontade apresentar um pequeno concerto. Vendo seu entusiasmo com a possibilidade de voltar a Oeiras, procurei ajudá-lo e participei de entendimentos nesse sentido. Porém, fiquei decepcionado com a falta de interesse da Câmara de Vereadores e com vergonha de dizer ao maestro que a cidade não movia uma palha para vê-lo outra vez, mesmo para apresentar um concerto inteiramente gratuito.

 

 

Há dois ou três anos, a UFPI fez-lhe homenagens, uma das quais no Palácio da Música, antigo Mercado do Cajueiro, em Teresina. Num dia de ensaio, eu tinha ido lá com Rodrigo Queiroz e Pedro Queiroz, bisnetos de Possidônio. Encontrando o maestro, apresentei-lhe os dois rapazes. Ele abraçou-os efusivamente. Logo depois, nos convidou para irmos à sala, onde um grupo de cordas ensaiava peças dele para o concerto na manhã de domingo. Ficamos lá um tempão apreciando e conversando na surdina com o maestro. Em determinado momento, comentei que determinada passagem de uma de suas composições lembrava Villa-Lobos. Ele respondeu com um sorriso cheio de satisfação: __ Fui aluno dele!

 

Nesta quarta-feira, véspera de Corpus Christi, fui ao Cine Teatro da UFPI, onde houve a missa de 7º dia e o concerto “in memoriam”. Músicos haviam lá, e alunos, e amigos, e admiradores sinceros de sua obra e de sua pessoa. Não pude demorar.  Quando saía, ouvindo um solo de violino que vinha de dentro do teatro, fiquei emocionado. Era como se o próprio Emmanuel estivesse tocando o instrumento.

 

 

Nota: as imagens são do concerto A Dança dos Espíritos, no Cine Teatro Oeiras (1988).

Rogério Newton

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