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Negras e negros do Rosário. Por; Carlos Rubem

Foto: reprodução Carlos Rubem

 Foto: reprodução Carlos Rubem

O meu pai, Ditinho Reis (1928 - 2009), era afilhado de batismo de João Ferraz, alto comerciante, rico fazendeiro. Prefeito de Oeiras (1933 -1935). Foi o primeiro chefe de família que adquiriu uma geladeira, movida à querosene, da cidade.

Como era praxe então, o meu velho ia, periodicamente, visitar o padrinho. Tomava-lhe benção, conversava amenidade, era bem acolhido. Todo ano ganhava seu presente natalino.

Quando relatava uma cena que presenciou, em criança, na casa daquele potentado, demonstrava indignação, porém.

Certa feita, da sala de estar de sua vivenda, onde se encontravam diversas pessoas adultas, o padrinho gritou para que uma criada sua lhe trouxesse um copo d’água gelado.

Quando bebeu o primeiro gole, notou que a água não estava fria, como esperava. Abespinhou-se. Jogou o restante do líquido na cara da serviçal, passando-lhe uma carraspana.

— Negra sem-vergonha, da próxima vez que me servir água quente vai caí na peia, ameaçou.

A “negrinha” aludida se casou com o Sr. Abdão, aos 20 anos. Caridosa, detentora de inabalável força moral. Tornou-se líder comunitária no bairro Rosário: Balbina Apolinário (1925 - 2009).

Balbina era muito amiga da minha mãe, Aldenora Campos. Vivia lá por casa. Trocavam altos papos. Participavam do Apostolado da Oração do Sagrado Coração de Jesus.

No dia 02.03.2024, houve o lançamento de “Negras e Negros do Rosário”, de autoria dos escritores Emanuel Vital e Rogério Newton. A capa do livro vê-se Dona Balbina de perfil, na contraluz. O instantâneo foi  colhido por Paulo Gutemberg. Não gostava de ser fotografada, sei muito bem disso.

Trata-se de uma coletânea de 17 depoimentos, em forma de entrevista, prestados por moradores daquele bairro, cuja população, desde priscas era, é formada por pessoas afro-descendentes, muitas vezes estigmatizada.

São verazes relatos daquela gente que muito de ufana de sua identidade negroide. E luta contra o preconceito racial ainda reinante.

A obra dá voz aos seus protagonistas através de suas diversas manifestações culturais, a exemplo dos Congos de Oeiras. 

Um repositório de informações que nos serve de fio condutor a reflexões humanísticas e mea-culpa.

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