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Estultice em curso. Por Carlos Rubem

 

Estultice em curso

*Por Carlos Rubem

W. Dias, meu prezado

Pode até parecer ridículo vir à presença do ilustre amigo e conterrâneo para tratar de um assunto de somenos importância para muitos ou mesmo um atrevimento de minha parte trazer à baila ao caríssimo o tema que irei relatar a seguir.

O fato é que a Secretaria Estadual de Educação do Piauí – SEDUC está mandando pintar de verde o quase secular prédio em que abriga a Unidade Escolar “Costa Alvarenga”.

Convém lembrar que a escolha do nome “Costa Alvarenga” é uma homenagem ao oeirense Pedro Francisco da Costa Alvarenga (Oeiras, 1826 – Lisboa, 1883), médico formado pela Universidade de Bruxelas, professor da Escola Médico-cirúrgica de Lisboa e cientista notabilizado, internacionalmente, pela descoberta do duplo sopro crural, revelador da insuficiência aórtica e conhecido pelos especialistas da área com o nome de sinal Alvarenga-Duroziez.

Costa Alvarenga acumulou enorme fortuna. Por disposição testamentária, doou ao Estado do Piauí vultosa quantia em dinheiro para a construção de uma escola pública em sua cidade natal. Houve desvio de finalidade. De sorte que este cometimento só veio a consumar mais 40 (quarenta) anos depois, miseravelmente. A ineficiência administrativa vem de longe!

Tal educandário, criado no dia 21 de abril de 1929, funcionou, inicialmente, no Sobrado João Nepomuceno, hoje, Museu de Are Sacra de Oeiras – MASO.

A sua sede própria, situada na Praça que leva o nome do seu patrono, como é do seu conhecimento, desde a sua inauguração (1938), foi pintado de amarelo.

Isto tem causado mal-estar entre muita gente, principalmente os membros do Instituto Histórico de Oeiras, instituição cultural que estará celebrando o seu cinquentenário de criação no ano vindouro (2022).

Aquela cor está sedimentada na paisagem urbana, imaginário coletivo. Um bem cultural que nos remete à identidade oeirense.

Tudo bem que as escolas estaduais possuam um layout próprio e adote o verde como a cor padronizada.

Porém, o caso em apreço há suas peculiaridades. O equipamento público em comento, de estilo eclético, faz parte do conjunto urbano tombado, em nível federal, e quaisquer intervenção deve ser, por força normativa, precedida de licenciamento do IPHAN.

Será sempre bem-vinda as ações do decantado Programa Pró-Piauí atacadas em todo lugar do nosso Estado e rendido muita mídia.

Mas é inaceitável a mudança visual do velho Grupo Escolar que acolheu várias gerações de estudantes ao longo de sua existência. Dele, são egressos os afamados escritores José Expedito Rêgo e O. G. Rêgo de Carvalho, para citar apenas estas personalidades.

A memória é o bem mais fino que Deus nos deu. Afrontá-la é uma demonstração de incivilidade.

Já pensou se algum gestor novidadeiro mandasse pintar de vermelho ou qualquer outra cor, o Palácio do Karnak, sede do Governo Estadual, revestido, tradicionalmente, de branco?

Peço-lhe, encarecidamente, que evite esta estultice. Ainda há tempo de reverter esta exdrúxula situação, até mesmo em salvaguarda do erário público.

Sertanejamente,

Carlos Rubem

 

 

 

 

*Carlos Rubem é Promotor de Justiça aposentado em Oeiras

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